Já parou para pensar que, às vezes, nossas relações humanas refletem mais sobre Deus do que imaginamos? Momentos de dor, amor e perdão podem ser espelhos da nossa própria relação com o Criador.
Em 1 João 4:19, lemos:
“Nós amamos porque ele nos amou primeiro.”
Esse amor incondicional que recebemos de Deus é o que nos capacita a amar, mas também nos desafia a refletir sobre como lidamos com os relacionamentos em nossa vida.
Quando adolescente, aos 14 anos, vivi uma experiência que marcou profundamente meu coração: apaixonei-me por uma ideia que não passava de uma mentira. Me sentia sozinha e deixada para trás, como se tivesse confiado em um vilão, assim como Ana no filme "Frozen". Quando finalmente me vi fora daquela situação, fui tomada por uma reflexão dolorosa, mas transformadora.
Percebi o quanto tratava Deus de forma semelhante: deixando-O de lado, colocando outras coisas em Seu lugar, pedindo perdão e não mudando nada. Meus sentimentos, meu celular, meus estudos: tudo ocupava o espaço que deveria ser d’Ele. O sentimento de vítima passou quando eu percebi que Deus sentia o mesmo por mim. A vilã era eu e foi também por mim e pelas pessoas que eu não conseguia perdoar o fato de que Ele deu Seu filho. Deus me amava tanto; no entanto, eu O deixava em segundo plano.
Essa experiência foi como um espelho, mostrando como muitas vezes priorizamos o que é passageiro em detrimento do eterno. Mas foi também um ponto de virada, um convite para redirecionar meu coração e colocar Deus no centro novamente. Um convite para parar de olhar os erros dos outros e começar a me auto analisar e identificar o que era preciso mudar; identificar os meus pecados sem jogar pedra no outro.
O profeta Oseias viveu isso de forma intensa. Deus pediu que ele se casasse com Gômer, uma mulher infiel, para simbolizar o amor persistente de Deus por Seu povo. Mesmo diante da rejeição e traição, Oseias foi chamado a amar e perdoar, exatamente como Deus faz conosco.
Se Oseias vivesse hoje — e até naquela época — muitos o chamariam de bobo. “Por que perdoar? Por que confiar em alguém que o traiu?” Mas Oseias sabia que seu amor incondicional refletia o amor de Deus. Ele não era tolo, pelo contrário. Como está escrito em Provérbios 19:11:
“A sabedoria do homem lhe dá paciência; sua glória é ignorar as ofensas.”
Em Oseias 11:8, Deus revela Seu coração cheio de compaixão, dizendo:
“Como posso desistir de você, Efraim? Como posso entregá-lo nas mãos de outros, Israel? […] Meu coração está enternecido, e sinto grande compaixão.”
É um amor que nunca desiste, mesmo quando erramos!
Deus não apenas nos ama, mas usa situações dolorosas para moldar nosso caráter. Ele é o Deus amoroso, compassivo, que nos dá a chance de aprender e crescer, mesmo em meio às dificuldades. Ainda assim, muitas vezes tratamos Deus da mesma forma que nos sentimos tratados pelos outros — com desconfiança ou indiferença. Às vezes, até tratamos os outros como reflexo da nossa própria mágoa ou frustração.
Como mudar isso? É preciso aprender com Deus. Ele nos ensina a amar com paciência, perdoar com graça e confiar em Seu plano. Se hoje você enfrenta algo que parece impossível de superar, lembre-se: Deus está ao seu lado, moldando você e transformando até a dor em algo bom.
Ele sim é digno de nossa atenção e amor. Ele nos amou primeiro e, por muito nos amar, deu Seu próprio Filho para morrer por nós. Todos os dias temos a oportunidade de fazer um paralelo de como nossas reclamações do dia a dia poderiam ser também a reclamação de Deus ao olhar para nós. Mas, mesmo assim, Ele escolhe amar a mim e a você, pecadores, e podemos ser recíprocos nesse amor.
Em vários filmes infantis, esperamos que um ato de amor verdadeiro destrua o mal criado por um vilão, mas esquecemos que, na vida real, esse ato já aconteceu: foi na cruz. Cristo já fez o maior gesto de amor por nós, os vilões pecadores, e, por mais que enfrentemos situações difíceis, não podemos esquecer que somos aqueles que Ele tanto ama.
Por isso, não podemos mais agir como vilões em nossas vidas, pois somos amados de forma incondicional e chamados a refletir esse amor em tudo o que fazemos.
Que possamos olhar hoje para o espelho e, ao invés de ver o vilão, vermos quem realmente somos em Cristo: transformados, perdoados e reconstruídos.
"Não somos mais nós quem vivemos, mas Cristo vive em nós" (Gálatas 2:20).
As nossas relações, atitudes e corações podem refletir Seu amor, se permitirmos que Ele mude nosso interior. O vilão não tem mais espaço; ele foi substituído pelo amor incondicional que nos capacita a amar como Cristo amou.